Desde o início do século XIX, o mercado de trabalho vem sofrendo profundas transformações. A partir da Primeira Revolução Industrial, a produção artesanal passou a ser comercializada em escala, com o advento das máquinas a vapor. Com a Segunda Revolução Industrial, no início do século XX, iniciou-se a industrialização, a utilização da energia elétrica e os processos de produção, tais como o Fordismo.
A Terceira Revolução Industrial introduziu a tecnologia na automatização da produção e demorou menos de um século para surgir depois da segunda. E, a partir de 2016, menos de 50 anos depois, iniciou-se a Quarta Revolução Industrial, que chegou para unir o mundo virtual e o físico. Inteligência Artificial, Internet das Coisas, Big Data e Metaverso são alguns dos termos que surgiram nesses últimos anos, em velocidade acelerada.
E por cima de tudo isso, ainda estamos no meio de uma pandemia, que veio a transformar ainda mais nossas relações de trabalho e nos trazer muitas incertezas. O trabalho remoto passou a ser indispensável, e muita gente não quer nem voltar mais para o escritório. Ficamos mais próximos e ao mesmo tempo mais isolados dos nossos companheiros de trabalho. O ambiente de trabalho voltou a se mesclar com o ambiente residencial, assim como acontecia na era pré-industrial. Não temos mais a pausa para o cafezinho, os almoços de equipe, ou a dificuldade de encontrar uma sala de reunião. Será que estamos na Quinta Revolução Industrial?
Na geração dos meus pais, o importante era conseguir um emprego bom, obedecer ao chefe e lá ficar até a aposentadoria. Se fosse em empresa pública, melhor ainda, assim o cargo era vitalício, e garantia tanto status quanto uma boa aposentadoria para toda a família. Em tempos pós-implantação das leis trabalhistas, ter uma carteira assinada, com jornada de apenas 8 horas diárias, já era lucro. E quem reclamasse, podia ficar à vontade e sair, pois a fila era grande.
A minha geração precisou aguentar muita coisa no mundo corporativo. Tudo precisava de muito esforço e comprometimento. Promoções e aumentos de salário eram raros, só mesmo quem mudava de emprego tinha essa sorte. No início da minha carreira, nos anos 2000, era supernormal trabalhar até tarde, ou até varar a noite, sem nem mesmo receber pelas horas extras. Tinha gente que ficava anos sem tirar férias e achava bonito dizer que tinha mais de 100 e-mails não lidos na caixa de entrada. E quem saía no horário ainda era considerado desmotivado! Nossos gestores eram autoritários e muitas vezes beiravam o assédio moral, com difamações públicas sobre o nosso trabalho. Em uma época em que nem se falava em burnout, tínhamos que nos adaptar a tudo isso, ou nos tornaríamos desempregados.
Ainda bem que hoje em dia muita coisa mudou. Os líderes não apenas devem comandar a execução do trabalho mas também ouvir, servir, motivar e desenvolver a sua equipe. Assédio se tornou uma palavra proibida em empresas que valorizam os seus funcionários. Gerentes autoritários também não sobrevivem nessas empresas. Millenials e Centennials já não toleram trabalhar em lugares onde não tenham qualidade de vida. Até os atletas deixam de competir para cuidar de sua saúde mental.
Me sinto encurralada em meio a uma geração que teve que aturar tudo e outra que não aguenta nada, entre uma que tinha apenas um trabalho durante toda a sua vida e outra que pede demissão por precisar de um propósito, muitas vezes sem nem ter outro emprego em vista. Os índices de demissões nunca foram tão altos, e todo dia vejo muita gente mudando de emprego no LinkedIn. Enquanto no passado as pessoas não conseguiam tirar férias porque trabalhavam muito, hoje elas não tiram férias porque nunca conseguem cumprir um ano no mesmo emprego.
Mas como equilibrar todas essas questões? Como fazer com que os trabalhadores atuais sejam comprometidos e ao mesmo tempo mantenham seu bem-estar? Qual o limite entre aceitar trabalhar em ambientes tóxicos por necessidade e pular de emprego em emprego cada vez que ficarmos insatisfeitos com o trabalho atual?
O mercado de trabalho está aquecido, e todos os dias recebemos uma enxurrada de mensagens oferecendo um novo emprego com "pacotes atrativos". No meu caso, tendo a não me iludir com essas ofertas milagrosas. Hoje em dia, o que mais importa para mim é trabalhar com o que eu gosto e ter um bom equilíbrio entre minha vida pessoal e profissional. Mas cada um precisa conhecer seus próprios limites para saber até onde pode chegar no trabalho atual e qual o momento certo para mudar.
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