Todo mundo vê as fotos que eu posto, mas não os perrengues que eu passo. Esse poderia ser o lema de qualquer viagem. Pois sabemos que não existe viagem sem perrengue, principalmente as viagens internacionais! Na minha última viagem à França, este ano, fiz uma coleção deles.
Cada interruptor, tomada, torneira ou descarga que utilizamos em outros países precisaria de um manual. Torneira automática, que abre pra cima, pro lado ou com o pé... Tomada de 3 pinos redondos, de dois pinos retangulares paralelos ou na diagonal. Tomadas que afundam na parede e que, nunca, irão encaixar naquele secador que você levou na mala durante toda a viagem. Nem mesmo o conversor universal de tomada dá conta de tanta variedade. Sem falar nas "privadas de plataforma" da Alemanha, que existem apenas para que você possa admirar a obra de arte que acabou de criar...
No quesito mobilidade, em cada cidade que visitamos, precisamos descobrir como pagar o ônibus e o metrô. Em algumas delas, precisamos comprar um cartão específico; em outras, podemos comprar o bilhete no totem ou, nos casos mais avançados, passamos nosso próprio celular ou cartão de crédito por aproximação direto na catraca. Quando estacionamos o carro nas ruas da Europa, precisamos realizar o pagamento no parquímetro (a versão mecânica do totem), que encontramos em cada rua. Algumas delas imprimem o ticket, outras não; em algumas cidades, precisamos colocar o ticket no retrovisor do carro... mas em outras não.
Quanto ao pedágio, em alguns casos, pagamos apenas quando saímos da estrada e o valor é calculado por km rodado; quando entramos na estrada, precisamos pegar o ticket que será usado para este cálculo (e que não podemos perder de jeito nenhum). Em outros, a cada pedágio pagamos um valor específico (como no Brasil), independentemente se rodaremos 10 ou 100km naquela estrada. É uma infinidade de opções!
Colocar gasolina em outros países também é um desafio. Estamos acostumados com a mordomia dos frentistas no Brasil, onde nem precisamos descer do carro para encher o tanque e realizar o pagamento. Na França, tivemos que recorrer ao Google Translator para entender que o atendente da loja de conveniência do posto (que não falava inglês) estava nos dizendo que deveríamos fazer um pré-pagamento lá dentro da loja, voltar ao carro para encher o tanque e, quando o abastecimento fosse concluído e soubéssemos o valor exato, ele iria cancelar o pagamento anterior e realizar o novo no valor correto. Meu francês, coitado, que não passava de bonjuour e merci, nunca iria entender todo esse processo... Obrigada, Google Translator!
As placas de trânsito também são bastante customizáveis em cada país, o que acredito ser bastante perigoso. Na minha opinião, os pesos, medidas, temperaturas e regras de trânsito deveriam ser universais. Chega de ficar convertendo Celcius para Farenheit ou quilômetros para milhas! Já basta termos que converter os dinheiros de cada país. Quando vamos para vários países com moedas distintas na mesma viagem então, dá um nó na cabeça. Penso que isso só serve para estimularmos nosso cérebro e mantermos nosso cálculo mental da regra de três em dia.
Mas, voltando às placas de trânsito... Acredito que deveríamos receber no mínimo um folheto com as principais placas e regras de trânsito quando alugamos um carro em outro país (por exemplo, para sabermos a diferença entre a placa de contra-mão europeia e a brasileira). No nosso caso, a única coisa que exigiram foi que tivéssemos a Carteira de Motorista Internacional, o que nem fazíamos ideia de que existisse, já que nas viagens anteriores, alguns anos antes, havíamos alugado carro sem problemas na Europa. Mas, como estávamos na Itália (a fonte do "jeitinho brasileiro"), bastou contratarmos um seguro total e realizarmos o pagamento adicional de 300 Euros para que essa nossa falha de planejamento fosse resolvida. E aí, tivemos que recorrer ao Google (de novo) para consultar as placas desconhecidas que apareciam pela estrada.
Já pegar a chave do apartamento alugado, deixada para nós em uma key box junto à porta, foi nível Escape Room... Recebemos um e-mail da administradora do imóvel com uma lista de regras e procedimentos. Além do horário de check-in e checkout, tinha código para a porta de entrada, código para a chave, regra para jogar o lixo e vídeo para chegar ao apartamento. Depois de passar pela primeira senha na porta de entrada, teríamos que encontrar a tal caixa com a chave (obviamente após seguir as instruções do vídeo sobre como chegar no apartamento), que estava pregada no batente da porta. A próxima dificuldade foi conseguir abrir a tal caixa, pois não havia nenhum lugar ali para inserir a senha. Finalmente, descobrimos que tínhamos que abrir uma portinha e, lá dentro, havia uma combinação no estilo cadeado. Digitamos o código da chave (não sem antes tentar o mesmo da porta de entrada, até percebermos que havia dois códigos diferentes) e... voilà! Ali estava a chave.
E quantas vezes já pedimos comida esperando uma coisa e veio outra totalmente diferente? Aqui vale uma nova nota de agradecimento ao Google Translator, que possui uma funcionalidade "ao vivo" para traduzir todo o cardápio apenas apontando a câmera para ele... Nesta última viagem, nossos perrengues foram reduzidos e não recebemos nenhuma comida sem ter uma ideia mínima do que estávamos pedindo.
Mas eu encaro todos esses perrengues como aprendizados! Eles incrementam nossa capacidade lógica e nossa criatividade e, da próxima vez que viajarmos para outros lugares, teremos mais bagagem para decifrarmos os novos problemas mais facilmente. Saímos da nossa zona de conforto e voltamos da nossa viagem com a mente aberta, cheios de histórias para contar (como esse próprio post). A tecnologia muitas vezes nos ajuda a minimizarmos estes perrengues, tendo um chip de dados para consultarmos placas de trânsito ou para traduzirmos cardápios, mas se não fossem os perrengues, que graça teriam as viagens?
No último dia, nosso perrengue foi ter que fazer um trajeto de quase 3h de estrada ao invés de cruzar a fronteira entre a França e a Itália através do túnel Montblanc, que levaria apenas meia hora. Além disso, havia risco de nevar, o que trazia uma preocupação adicional para meu marido-motorista, pois não estávamos munidos de corrente ou de pneus apropriados para a neve. Porém, pegamos uma estrada ao redor dos Alpes que, apesar de mais longa, foi a mais linda que percorremos durante toda a viagem!
Além disso, ao subir o teleférico para vermos o Montblanc de pertinho (agora, já denominado Monte Bianco por estarmos do lado italiano), não conseguimos ver nada, por causa da baixa visibilidade e da neve que caía. E, apesar de termos ficado com uma pontinha de ressentimento por não termos visto o pico da montanha mais alta da Europa (o que poderá ser resolvido facilmente com uma nova viagem), saímos de lá felizes da vida. Não vimos o Montblanc, mas vimos neve. Gastamos muito mais tempo para fazermos o mesmo percurso, mas vimos paisagens maravilhosas no caminho.
E... no final, sempre dá tudo certo, mesmo com todos os perrengues!
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