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Meu pai

Meu pai foi um homem muito bom.  Bom marido, bom filho, bom pai. Até bom genro ele foi, o preferido da minha avó. Há alguns anos, postei uma foto com ele no Dia dos Pais dizendo que ele era o pai mais amoroso e carinhoso do mundo. E essa é a mais pura verdade! Em uma casa só de mulheres, sempre tratou sua esposa e suas quatro filhas com muito amor e respeito. Foi casado durante 67 anos com a minha mãe e, mesmo depois de todos esses anos, eles ainda andavam na rua de mãos dadas e dormiam de conchinha. 💗

Nos últimos anos, talvez porque ele sabia que não estaria conosco para sempre, queria todas as filhas por perto e era um grude com a minha mãe. Todos os dias, eles iam jogar bocha juntos e assistiam à missa na TV abraçadinhos. Minha mãe não podia nem sair para ir ao mercado que ele já perguntava onde ela estava!  

Hoje, dia 21 de abril de 2025, meu pai estaria fazendo 93 anos. Mas, infelizmente, ele nos deixou no dia primeiro de janeiro deste ano, depois de 10 dias internado. Nosso consolo é pensar que ele teve uma vida longa e feliz, que não sofreu e que sempre recebeu todo o amor e carinho de sua esposa, filhas, genros, netos e bisnetas. Mas, no fundo, queríamos mesmo é que ele ainda estivesse aqui e que nossa família durasse para sempre... 

Meu pai foi um entre os 10 irmãos de uma família de imigrantes italianos. Durante sua infância, morou no sítio em uma pequena cidade do interior de São Paulo, onde aprendeu a cultivar o café, uma de suas paixões por toda a vida. Foi goleiro em um time de futebol da cidade, aprendeu a tocar bateria e começou a trabalhar como bancário.

Chegou em Garça como gerente do Banco Itaú, foi professor de matemática na escola técnica e teve seu próprio sítio (de café, é claro) por muitos anos. Me lembro que, quando eu era pequena, meu pai passava o dia todo no sítio e, quando chegava, ainda dava aula até às 11 da noite. Era famoso entre seus alunos por contar muitas piadas, e também muito generoso com os seus funcionários do sítio. 

Além disso, tocava pandeiro, jogava bocha e era bastante atuante entre os agricultores e cafeicultores de Garça. Por isso, sempre foi muito conhecido em toda a cidade, e muito querido também. Tinha amigos da escola, do boteco, da bocha, do banco... e toda semana tinha vários compromissos com cada uma dessas turmas. Sua tranquilidade e seu bom-humor eram contagiantes.  

Com certeza, meu pai faz muita falta, não apenas para a nossa família, mas também para a comunidade garcense. Sua história foi homenageada em uma reportagem no jornal da cidade (que minha mãe colou na geladeira e relê todos os dias 💔), e seu legado será sempre relembrado. Durante o seu velório,  dizíamos que, se ele estivesse ali, provavelmente estaria tocando pandeiro e contando piadas para nos alegrar. Já a sua irmã, imaginava que ele deveria estar no céu resolvendo problemas de matemática com seu marido, que falecera muitos anos antes.   

Todos os dias, nos lembramos das coisas que ele faria se ainda estivesse aqui: ouvir suas infinitas mensagens do WhatsApp, no último volume, sempre onde estávamos conversando; sentar no seu lugar cativo da mesa ao meio-dia em ponto, sem nem perguntar se o almoço estava pronto (e, mesmo assim, dizer que não estava com fome); ficar o dia inteiro sentado na sua "cadeira do papai" para assistir aos mesmos jogos de futebol na TV (também no último volume); comer misto quente todos os dias na hora do jantar; perguntar o tempo todo onde estava a minha mãe; ou ainda, aparecer do meu lado enquanto eu estava trabalhando, para conversar comigo, sem entender que eu estava em uma reunião online e não estava escutando nada...

Vou lembrar sempre com muito carinho dele me chamando de minhoquinha, desde quando eu era pequena... e de que essa foi a última coisa que ele me disse, quando estava no hospital. De todas as vezes que ele estudou matemática comigo quando eu ainda estava na escola (e do orgulho que sentia porque eu fui para a área de exatas). Do sorriso enorme que ele dava sempre que eu chegava de São Paulo, e do abraço quentinho e apertado que eu ganhava enquanto ele dizia "oi linda!". Depois, quando eu ia me despedir, falava que não queria que eu fosse embora e que eu podia voltar a morar com eles... 

Sempre me perguntava se eu estava feliz e em paz, e dizia que eu tinha que respeitar o meu chefe no trabalho. Quando eu era pequena, deixava eu pentear o seu cabelo e fazer todos os tipos de penteado com gel, presilhas ou chuquinhas. E dizia que quando minhas irmãs eram pequenas, ele também deixava que elas o derrubassem do sofá. Me contou infinitas vezes sobre o gatinho que tinha quando era pequeno, toda vez que eu falava das minhas gatinhas, ou de como ele contou para as minhas irmãs (que já eram adolescentes) quando minha mãe engravidou de mim… E eu me fingia surpresa por não conhecer essas histórias. 

Todo domingo, quando ele ia almoçar na casa da minha irmã, se sentava no sofá após o almoço com uma cachorra de cada lado, para poder fazer carinho nas duas ao mesmo tempo. Tinha uma memória excelente para lembrar de todas as piadas, mas que às vezes falhava para lembrar o nome dos netos. Contava mil vezes as mesmas piadas, mas cada vez ríamos mais ainda. Dançava com a minha mãe o mesmo passo em todos os bailes e festas da família, mesmo que a musica fosse um rock. E quando a minha irmã mais velha tocava piano, ele a acompanhava no pandeiro.

Hoje, a sala de televisão ficou vazia sem a sua presença. Seu lugar cativo na mesa do almoço também. Ele não vai mais passar pelo meu quarto e falar “minhoca”. Minha mãe não precisa mais ajudá-lo a se vestir e nem fazer os seus mistos quentes à noite. 

Escrevo tudo isso com lágrimas nos olhos, lágrimas de amor e de saudade eterna. Mas são essas lembranças que vão ficar para sempre nos nossos corações...  💞

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