Terapia do Vinho

Outro dia ouvi a seguinte frase, que me fez pensar e escrever:  Envelhecer é uma merda, mas a alternativa é não estar mais aqui. Concordo plenamente com isso. Sim, é muito difícil envelhecer! E olha que eu tenho apenas 48 anos, ainda nem cheguei na "terceira idade". Me sinto muito mais jovem do que a minha idade biológica, e continuo agindo como tal. Muita gente diz que não pareço mais nova, tanto de aparência física quanto de atitude.  Mesmo assim, já sinto o peso dos cinquenta... Sinto dores no corpo que não sentia antes (na cabeça, na lombar, no estômago...), não aguento mais ir pra balada nem ficar acordada até tarde, tenho ressaca no dia seguinte até quando bebo uma taça de vinho. Não gosto mais de ambientes barulhentos e cheios de gente, reclamo do som alto como via meu pai fazendo antes. Nem consigo mais imaginar como eu tinha coragem de ir em uma micareta alguns anos atrás! Fico cansada só de pensar. Ultimamente, nem em festivais de música tenho coragem de ir.  Re...

Acordar cedo. Dar comida para as gatinhas. Limpar a caixa de areia das gatinhas. Dar remédio para as gatinhas. Escovar as gatinhas. Escovar o dente das gatinhas (impossível!). Brincar com as gatinhas. Tomar café. Tomar suco verde. Tomar remédio. Tomar whey. Lavar a louça. Lavar roupa. Estender roupa. Recolher roupa. Dobrar a roupa. Guardar a roupa. Fazer exercício aeróbico. Fazer musculação pra melhorar os sintomas da menopausa. Fazer aula de yoga para ficar mais zen. Tomar banho. Lavar o cabelo. Secar o cabelo. Passar fio dental. Escovar os dentes. Escovar a língua. Passar vitamina C no rosto. Passar protetor solar. Escolher a roupa. Colocar bijus. Passar maquiagem. Meditar. Ler a bíblia. Ficar por dentro das notícias do mundo. Trabalhar. Buscar a correspondência na portaria. Planejar o cardápio da semana. Fazer almoço. Almoçar. Fazer a dieta da nutricionista. Comer verduras e legumes. Comer carne vermelha para melhorar o ferro. Não comer ultra processados porque dá câncer. Não co...

Além de pai, você foi avô, bisavô, marido, filho, genro, sogro… Corinthiano, professor de matemática, bancário, goleiro, cafeicultor e bochófilo. Todas essas suas versões te complementavam e faziam com que você fosse o melhor pai do mundo. Hoje é meu primeiro dia dos pais sem o meu pai. Enquanto viajo de ônibus voltando para São Paulo, fico aqui pensando sobre sua rotina, que com a idade foi se tornando cada vez mais previsível. Talvez relembrar (e escrever) seja uma forma de matar a saudade e de não me esquecer de cada detalhe. Todos os dias, você tomava café da manhã sentado na ponta da mesa: uma xícara de café com leite (aquecido com exatos 30 segundos no micro-ondas, ou 3 voltas da caneca); 2 bananas nanicas e 4 fatias de pão caseiro (que você mesmo amassava 250 vezes contadas), com goles e bocadas matematicamente calculados para que tudo terminasse ao mesmo tempo. No almoço, o lugar da mesa era outro, ao lado esquerdo da minha mãe, que desta vez era quem se sentava na ponta. E ain...

Será que minha vida atual é do jeito que eu sonhei? Ou será que a vida que eu sonhei é real? Sonhamos com uma família de comercial de margarina, uma casa de revista de decoração, um corpo de modelo, uma festa de casamento de artista da globo, um marido homão da porra, um look de blogueirinha da moda... mas será que isso é real? São essas coisas que eu penso de madrugada enquanto estou com insônia... Na verdade, precisamos ser felizes com a vida que temos, nos esforçar para melhorar sempre e tudo o que vier será consequência natural de tudo isso. O que não podemos é estarmos sempre insatisfeitos por nos compararmos com uma vida que não existe, uma realidade que não conhecemos e que enxergamos apenas o que foi mostrado nas redes sociais.  Mas não sabemos o que está por baixo da ponta do iceberg, não sabemos das discussões depois do café da manhã da família de margarina, ou do motivo real das separações dos artistas. Porque essa parte eles simplesmente não postam.

Toda quarta podia ser feriado Dá um respiro na semana Começa como um sábado E termina como um domingo Acordo mais tarde, mas não muito tarde Cuido das gatinhas Tomo um café da manhã reforçado  E vou pra academia Faço minha série sem pressa Dá tempo de fazer aeróbico De fazer abdominal E de alongar Volto pra casa Tomo um banho quentinho  Passo hidratante, óleo, máscara Faço escova no cabelo Medito Tomo outro café expresso Arrumo a casa E até me inspiro a cozinhar  Depois do almoço, dou aquela cochiladinha Começo a ler um livro  E faço todas aquelas coisas Que nunca tenho tempo de fazer E aí, já é hora de me preparar  Para o dia seguinte Voltar à rotina Mesmo que seja só por mais dois dias Feriado é dia de relaxar De fazer o que gosto De dar aquela parada Pra depois começar tudo outra vez Que dia delicioso Toda quarta podia ser feriado!

Hoje a casa está arrumada  Posso fazer o que eu quiser A hora que eu quiser  Tenho tempo para mim Não tenho louça para lavar Horário para almoçar Posso dormir até acordar  Sem me preocupar    Posso assistir a comédias românticas E chorar até derreter  Posso ler meu livro E ouvir música bem alto Mas... o que adianta tudo isso Se não tem beijinho Nem abraço quentinho Ou dormir de conchinha  Não tem companhia pro almoço Nem pro café depois do almoço  Na namoradeira Olhando a vista da varanda O dia ficou chato  E com um vazio enorme O dia está frio E não tem ninguém para me esquentar É domingo Esse dia já é triste Mas ficou bem mais triste Sem você

Meu pai foi um homem muito bom.  Bom marido, bom filho, bom pai. Até bom genro ele foi, o preferido da minha avó. Há alguns anos, postei uma foto com ele no Dia dos Pais dizendo que ele era o pai mais amoroso e carinhoso do mundo. E essa é a mais pura verdade! Em uma casa só de mulheres, sempre tratou sua esposa e suas quatro filhas com muito amor e respeito. Foi casado durante 67 anos com a minha mãe e, mesmo depois de todos esses anos, eles ainda andavam na rua de mãos dadas e dormiam de conchinha. 💗 Nos últimos anos, talvez porque ele sabia que não estaria conosco para sempre, queria todas as filhas por perto e era um grude com a minha mãe. Todos os dias, eles iam jogar bocha juntos e assistiam à missa na TV abraçadinhos. Minha mãe não podia nem sair para ir ao mercado que ele já perguntava onde ela estava!   Hoje, dia 21 de abril de 2025, meu pai estaria fazendo 93 anos. Mas, infelizmente, ele nos deixou no dia primeiro de janeiro deste ano, depois de 10 di...