Além de pai, você foi avô, bisavô, marido, filho, genro, sogro… Corinthiano, professor de matemática, bancário, goleiro, cafeicultor e bochófilo. Todas essas suas versões te complementavam e faziam com que você fosse o melhor pai do mundo.
Hoje é meu primeiro dia dos pais sem o meu pai. Enquanto viajo de ônibus voltando para São Paulo, fico aqui pensando sobre sua rotina, que com a idade foi se tornando cada vez mais previsível. Talvez relembrar (e escrever) seja uma forma de matar a saudade e de não me esquecer de cada detalhe.
Todos os dias, você tomava café da manhã sentado na ponta da mesa: uma xícara de café com leite (aquecido com exatos 30 segundos no micro-ondas, ou 3 voltas da caneca); 2 bananas nanicas e 4 fatias de pão caseiro (que você mesmo amassava 250 vezes contadas), com goles e bocadas matematicamente calculados para que tudo terminasse ao mesmo tempo.
No almoço, o lugar da mesa era outro, ao lado esquerdo da minha mãe, que desta vez era quem se sentava na ponta. E ainda tinha o seu garfo e a sua faca favoritos, que todos que arrumassem a mesa deviam conhecer, pois você não usaria nenhum outro. Você comia uma pratada de salada e outra de arroz, feijão e “mistura” (com o feijão por baixo), mas recentemente repetia em todas as refeições que não tinha fome.
Na janta, seu prato único era o misto-quente com maionese, que minha mãe preparava e levava para você comer na sala de TV, enquanto assistia à novela das seis.
Hoje, se você ainda estivesse aqui, teria 93 anos, 68 deles casado com a mamãe. Vocês dois ainda estariam andando na rua de mãos dadas, assistindo à missa na TV abraçadinhos e dormindo de conchinha.
Você sairia para jogar bocha todas as tardes, iria pro boteco com os seus amigos nos domingos e assistiria a todos os jogos do Corinthians (reclamando dos “toquinhos de ladinho”). E, quando a mamãe levasse o café na sala pra você depois do almoço, você diria: “fez café?”.
Quando eu chegasse na sua casa, você abriria um sorriso enorme e me daria um abraço quentinho e apertado, com todo o orgulho do mundo por eu ter seguido os seus passos na área de exatas. No próximo Natal, eu iria novamente fazer o seu cadastro no site do amigo secreto da família e saber quem você tirou (mesmo quando o seu amigo secreto fosse eu!).
Ontem, fui pela primeira vez te visitar no cemitério. Que tristeza senti ao ver que você agora tem um túmulo, lindo (porém desnecessário), feito granito azul (sua cor preferida) e grande o suficiente para caber toda a nossa família com você algum dia. Que tristeza senti ao ver minha mãe olhando para você com tanta saudade...
Hoje, em pleno dia dos pais, imagino que você está lá no céu, na companhia de seus pais e irmãos que já se foram, dando aulas de matemática, tocando pandeiro e contando piadas para alegrar a todos ao seu redor!
Nunca irei me arrepender de todos os beijos e abraços que te dei, de todas as vezes que sentamos juntos para fazer os mesmos problemas de matemática (e mesmo assim eu nunca lembrava como aplicar todas aquelas formulas complicadas que só o senhor sabia).
Nem irei me arrepender de ter ido pra a sua casa todo mês nos últimos anos, pois sabia que tinha que aproveitar cada momento para ficar perto de você. Você ficava tão feliz! Dizia que preferia que todas as filhas ainda morassem com vocês, para que não tivéssemos que ir embora...
Papi, além de ter me ensinado a gostar tanto de matemática, acima de tudo você me ensinou a ser honesta, gentil e carinhosa. Obrigada por ter sido essa pessoa tão boa e querida por todos. Feliz Dia dos Pais. Te amo eternamente. 💓
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