Primeiro mês...
É assim, filha. Há momentos que fico bem, outros penso que não vou suportar. É preciso ter fé e coragem pra não afundar. Mas vai passar, não sei quando.
O lugar na mesa...vazio. Na sala de TV.... não tem ninguém. Na hora de ir pra bocha, ninguém me chama. No quarto...também não o encontro. No banheiro, ninguém para eu enxugar as costas. Na feira, agora vou só. No horário da missa, TV desligada. Ao acordar, na hora do banho, ao deitar, não me pede ajuda.
Cadeira do papai sem aquele ranger... A casa, sem vida. Na bocha, o parceiro sem o parceiro. Os R$ 2 não preciso mais reservar... No coração ♥️, saudade sem fim. Nos olhos, lágrimas que correm. No peito, um aperto.
E assim vou vivendo meus dias... Que coisa que é a morte.
Não me deixe tropeçar, nem desistir, mas fortaleça-me Senhor, para que eu possa prosseguir.
Segundo mês...
Acabei de vender a camionete do papai. Depois que o Zé me trouxe e foi embora com ela, entrei em casa chorando. Era o xodó do papai. E lá se foi ela também. Só perdas.
Meu Deus, obrigada pela minha saúde que me permite seguir em frente. Obrigada pelas dificuldades que enfrento, pois me fazem crescer. Amém!
Terceiro mês...
A dor da perda não perde a força com o tempo. Sou eu que me fortaleço, dia após dia, com a coragem que Deus me dá. Mas... não está sendo fácil. Jesus, cuide de mim !!! Sou forte, mas não sou de ferro.
Fui ao cemitério dar os parabéns pro papai pelos 93 anos. Fiquei lá com ele, um tanto. Tive dó de deixá-lo. Não teve outro jeito.
Tenho Deus, diariamente, em mim, que me dá forças para vencer as dificuldades que parecem ser invencíveis. Amém !
Quarto mês...
Bendito seja o tempo que se encarrega de curar minha dor. Agradeço a quem foi embora e me ensinou a seguir em frente.
Quinto mês...
É enxugando as lágrimas que a gente recebe o dia. É enxugando as lágrimas que a gente recebe a noite. É enxugando as lágrimas que a gente volta a viver.
Às vezes eu escondo a dor atrás de um sorriso, não porque eu quero ser forte, mas sim porque eu preciso.
Passamos tantos anos lado a lado, compartilhando alegrias, tristezas e desafios... Quando estávamos juntos, a vida parecia infinita, e nunca imaginei, um dia, seguir sozinha.
Todas as pessoas falam pra mim: "enxugue suas lágrimas, o Olegário não quer você triste. De lá, ele cuida de você. E tudo sente. Se você ficar triste, ele fica também". Daí eu tomei como verdade. Não quero que ele fique triste. E não fico também (quer dizer, de vez em quando, esqueço disso e não sigo à risca). Estou tentando. Mas que ele levou metade de mim, isso ele levou.
Fui no cemitério hoje e ele estava lá, quietinho... Tadinho do papai, naquele sol quente...
Sexto mês...
Já estive no cemitério comemorando com seu pai, a data de hoje. Seria "um ano a mais, juntos". Ele não foi imortal mas é inesquecível. Daqui por diante, vou tentar ser feliz de outro jeito.
Tem dias que estou bem. Outros, nem tanto. Hoje estou no "nem tanto". Fui no quartinho, lá na garagem, e lá estão as ferramentas de uso no sítio. Está tudo aí. Que coração aguenta?
Sétimo mês...
Não está fácil ficar sem seu pai. Com o passar dos dias, parece que piora! Jesus! Como é difícil quantificar quantos foram embora com aquele que foi. Ele era uma multidão em minha vida.
Meus medos eu já os conheço. Agora, estou experimentando a minha coragem para continuar a viver...
Décimo mês...
Como estou conseguindo continuar vivendo sem ele? Só por Deus !!!
Filhas, era sabido e esperado que eu iria ficar assim, sem seu pai. E não seria diferente. Perder um companheiro como ele foi, é cruel demais. O gênio bom, a paciência, o equilíbrio, era tudo dele. E nós dois, sempre grudadinhos. A morte vem, arrebata a pessoa, leva, sem sem importar que a outra fica "pela metade", amputada, no chão... Mas vai passar. Por enquanto, estou vivendo este luto que vai perder a intensidade, com o tempo (dizem). É muito recente. Nesta época, no ano passado, ele estava aqui. No hospital, o Papai Noel apareceu e eu falei: bem, olha o Papai Noel... mas ele nem ligou. E depois, não me atendeu mais... Nunca falou em morte e nem me recomendou coisas pra eu fazer caso acontecesse. Acreditava que iria viver. Tadinho.
Não pensem que estou deprimida. Sigo minha vida normal, com todas as atividades de antes. Só o coração que está aos pedaços. Por enquanto, quero ficar quietinha. Choro no quarto mas sorrio fora dele. E assim estou vivendo meus dias; a fé em Deus me dando força e coragem. Tenho a Ana Lúcia aqui, que faz tudo por mim. Filha abençoada, igual ao pai, em tudo. Bjs e bçs.
***
É assim, procuro preencher o grande vazio que ficou, tendo vocês ao meu lado. Sou independente, não pergunto o que devo fazer e nem o que não devo, façoo e compro o que quero. Não sinto solidão. Só choro bastante por ter ficado sem meu bem. Só não me interesso por um novo relacionamento porque ainda o tenho vivo em meu coração e para encontrar outro como eu tive, vai ser difícil. E vamos em frente.
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