Tenho absoluto desespero pelo scroll infinito, aquela barra de rolagem que encontramos nas redes sociais, que nos faz ficar horas e horas lendo sobre a vida do outro ou desejando ter algo de que nem precisamos. E eu, que sempre senti um prazer imenso pelo encerramento, pela conclusão de atividades, pela conquista de metas, simplesmente não consigo lidar com algo que não tem fim.
Sempre adorei a segunda-feira, pois ela me dá a chance de recomeçar minha rotina. Sempre adorei estrear um caderno novo, pois é uma oportunidade de escrever com uma letra mais bonita... Mas, ultimamente, não sinto mais este prazer. A virada do ano não traz mais a mesma emoção de antes, e sim a sensação de que o ano que se inicia é apenas a continuação do ano anterior. Desde que a pandemia começou, essa sensação é ainda maior. É impossível distinguir 2020 de 2021 e, quiçá, poderemos reconhecer 2022 no futuro.
Estamos sempre conectados e recebendo informações de todos os lados, por todos os tipos de tela, tudo ao mesmo tempo. Não há mais limites entre a vida profissional e pessoal, principalmente no home office. Precisamos fazer tudo, não podemos desperdiçar o tempo, não queremos perder nada. Não temos tempo nem para dormir. Nos sentimos excluídos quando não estamos atualizados sobre os últimos posts, memes ou hastags.
O scroll infinito representa os anos emendados, os dias sem intervalo, as horas contínuas. A vida que deve ser vivida 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem limites. E, por causa disso, nos sentimos como ratinhos correndo na esteira. Cansados, esgotados, desesperados.
O presente é um pretérito contínuo.
Inspiração... A vida sem pausa e Exaustos-e-correndo-e-dopados.
Coluna de Eliane Brum no jornal El País
Comments
Post a Comment