Por muito tempo relutei em tomar antidepressivos. Fazia terapia, trocava de psicólogo e, mesmo assim, me sentia como um ratinho correndo na esteira, sem sair do lugar...
Pensava que eu era a pessoa mais imatura do mundo, por depender de um terapeuta pra levar minha vida, por não conseguir melhorar sozinha. E esse pensamento só piorava quando eu pensava que não tinha nenhum motivo para me sentir assim! Sou inteligente, bonita, tenho saúde, emprego, uma família estruturada e nunca passei necessidade. Me sentia extremamente ingrata por ficar deprimida, mesmo tendo tudo isso.
Passei anos e anos assim, mas uma lesão na coluna me fez tomar uma decisão. O ortopedista me falou que eu tinha um tumor e que precisaria fazer uma cirurgia. Não conseguia mais correr, mergulhar ou dançar. Nem andar na esteira eu conseguia, tudo doía.
Não tinha vontade de sair de casa, pois não conseguia ir em um banheiro público sem me sentar. Não podia fazer nenhum plano, porque não sabia se iria aguentar. Até que me vi, em plena noite de Natal, chorando sozinha no meu quarto enquanto toda a minha família estava celebrando. Foi o meu basta!
Logo depois do Ano Novo, fui à primeira consulta com a psiquiatra que me acompanhou por alguns anos. E saí de lá com uma receita de antidepressivo que mudou a minha forma de olhar para o problema. Parecia que uma nuvem cinzenta havia passado e o céu azul se abria, em um dia ensolarado. Tudo ficou tão simples, a vida passou a ser tão descomplicada que eu não conseguia entender por que havia demorado tanto tempo para tomar esta iniciativa!
Aquele medo que eu tinha de ficar viciada no remédio, foi interpretado como puro preconceito ou falta de conhecimento. Passei a entender que eu precisava dele naquele momento, pelo menos para aquele empurrãozinho inicial que me faria sair da lama. Me sentia bem, não tinha mais aquelas crises de choro frequentes e nem sofria sem motivo.
Mas chega um ponto em que a gente está tão bem que começa a se perguntar se deve continuar tomando o remédio pra sempre ou se deve tentar parar e voltar a se bancar sozinha. Me preparei, eliminei os fatores externos, conversei com a minha terapeuta, fiz um curso de mindfulness e segui todas as orientações médicas para o desmame, até que consegui parar. E o melhor de tudo, continuei me sentindo bem mesmo sem o "remedinho da felicidade".
O problema foi que tudo isso aconteceu um mês antes da pandemia começar, no mesmo ano em que eu estava defendendo minha tese de mestrado. A pressão pelos prazos, a mudança na rotina, a falta de diversão e o medo constante de ser contaminada fizeram com que eu tivesse uma recaída e, seis meses depois que havia parado, voltei a tomar o tal remédio.
Agora estou no mesmo dilema de dois anos atrás: tomar ou não tomar? Eis a questão!
Hoje em dia, não tenho mais vergonha de dizer que tomo antidepressivos. O remédio deixou de ser um assunto velado, é como se eu fosse um diabético que tivesse que tomar insulina. Não é um assunto que a gente fica comentando com todo mundo, mas também não precisa esconder. Se alguém me perguntar, ou se surgir o assunto, falo sem nenhum medo de me sentir vulnerável ou de me classificarem como louca.
Tenho vários amigos que sofreram de depressão, crise de ansiedade ou síndrome do pânico, e sempre que vejo uma pessoa querida com estes sintomas, fico profundamente impactada. Alguns já até me pediram conselhos sobre tomar ou não tomar antidepressivos e, por isso, sinto a necessidade de compartilhar a minha história para que ela possa contribuir de alguma forma para esta decisão.
É claro que não tenho nenhum conhecimento médico para receitar um antidepressivo a ninguém, mas geralmente esta dúvida acontece depois do diagnóstico, quando eles estão naquela fase de negação. E o que eles precisam é apenas de um ombro amigo para compartilhar suas dúvidas e medos sobre o tratamento.
O que posso dizer é que a depressão não é apenas a falta de serotonina no organismo, como eu pensava anteriormente, e sim uma combinação de fatores, que podem ser químicos, sociais, comportamentais ou ambientais, por exemplo. Justamente por não ter uma única causa, o tratamento também pode ter uma combinação de remédio e psicoterapia.
Cada um precisa conhecer o seu próprio limite, baseado no autoconhecimento. No meu caso, posso dizer que hoje me sinto muito mais feliz do que antes de começar a tomar. Meditação e exercícios físicos me ajudaram muito também. Outras pessoas também se apegam à religião ou à espiritualidade.
Ainda não sei se quero tomar antidepressivos para sempre, mas também não quero continuar sofrendo. Se eu parar novamente, terá que acontecer no tempo certo. Portanto, se apenas a terapia não está resolvendo pra você, procure outras alternativas. O importante é se sentir bem, fazer acompanhamento psicológico e não deixar a bola de neve crescer até os sintomas ficarem insuportáveis, por pura falta de aceitação. Pois aí com certeza o tratamento vai ser muito mais demorado e muito mais difícil...
Ahhhh, que depoimento mais lindo! Posso dizer que me sinto parte dele de alguma forma? Obrigada por compartilhar sua jornada comigo, me incentivar e me apoiar na minha. Seguimos firmes e fortes, sabendo aceitar ajuda (interna, externa, natural, química, todas) para estar bem e viver bem essa vida louca vida <3
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