E então, assim de repente, o mundo inteiro parou.
Parece um filme de ficção científica, mas é a nossa nova
realidade. São Paulo não tem mais aquele trânsito caótico, aquele barulho constante
de buzina, os transportes públicos lotados. Nem na Copa do Mundo vimos a cidade
tão vazia. Nem com a greve dos caminhoneiros. Nem no último capítulo da novela
Avenida Brasil.
Como poderíamos imaginar que um vírus iria impactar tanto assim
as nossas vidas? Nos vimos isolados em casa, passamos a ter medo das outras
pessoas, tivemos que nos adaptar a uma nova rotina. Este vírus maledetto nos tornou
individualistas e antissociais.
Percebemos como somos dependentes das outras pessoas e como todos nós estamos conectados. Tudo o que fazemos requer contato pessoal. Vou deixar de usar o transporte público e ir de carro ao trabalho. Mas, para isso, terei que deixar o carro em um estacionamento, onde o manobrista irá dirigi-lo. Se eu for de Uber, pior ainda, quantas pessoas já entraram naquele carro... É um beco sem saída, a única solução é ficar trancado em casa mesmo, para reduzir os riscos de infecção.
Aprendemos novas regras, passamos a pensar em novos problemas inimagináveis, que nunca tivemos que resolver antes. Andar no parque pode? Nadar pode? E passear com o cachorro? Como irão sobreviver os trabalhadores autônomos, os camelôs e pequenos comerciantes? E os moradores de favelas, que terão que ficar trancafiados em seus cubículos, onde a aglomeração será inevitável? Pessoas ficarão sem trabalho, haverá consequências sociais e econômicas no mundo todo. Socorro, preciso ir lá abraçar minhas gatas pra desestressar.
Para mim, está sendo bem difícil me acostumar. Sou uma pessoa extrovertida, adoro conversar, encontrar meus amigos e abraçar as pessoas. E ainda por cima, sou super planejada e sempre estou fazendo coisas diferentes. Confesso que no começo, não tinha noção da grandeza dessas mudanças. Pensava que as pessoas estavam exagerando, que seria apenas uma nova H1N1 que teríamos que conviver, e que a vacina chegaria antes do vírus se espalhar mundialmente.
Meu primeiro sentimento foi de indignação, por ver todos os meus planos irem por água abaixo. A viagem do meu aniversário, que eu comprei na última Black Friday. A exposição que eu estava aguardando havia 2 meses. A primeira corrida que eu faria este ano. O show que eu tinha acabado de comprar. Viram como eu sou planejada?
Logo depois, bateu um desespero. Um medo de estar fazendo pouco, de estar me expondo ao risco, de não me cuidar. Tive crises de choro, noites mal dormidas, fui totalmente improdutiva no trabalho e parei de ler todas as mensagens e vídeos sobre o vírus que eu recebia no celular.
E foi aí que a ficha caiu, e que comecei a mudar minha rotina. Trabalho? Home office. Manicure? Cancela. Maquiagem? Não precisa, vou ficar em casa mesmo. Mercado? Online. Faxineira? Dispensa até a poeira baixar. Passei a ter uma vida mais minimalista, a pensar somente no que é necessário: saúde, alimentação e higiene. O resto não é essencial, posso deixar pra depois.
É um momento de reflexão, de revisão de conceitos. De ser menos consumista e se desfazer daquilo que não precisamos mais. De estar trancado em casa com a família. De arrumar as gavetas (físicas ou mentais) e fazer aquilo que geralmente não temos tempo: cozinhar, cuidar das plantas, estudar ou se dedicar a um hobby.
Mas o que fazer quando não se tem nada pra fazer? Solte a criatividade, reinvente-se, adquira novas experiências. É um bom momento para colocar a leitura e os filmes em dia. Para meditar e agradecer por todas as coisas boas que estão acontecendo na nossa vida. Para aceitar o que está acontecendo e aprender com a situação.
E o que vamos levar de aprendizado quando tudo isso passar? A cidade respirou e a poluição diminuiu. As famílias tiveram tempo para conversar e brincar com os filhos em casa. Os trabalhadores não perderam tanto tempo no trânsito e as empresas perceberam que seus funcionários podem trabalhar de casa. As pessoas despriorizaram o que não é importante.
Depois que a pandemia passar, continue colocando em prática esses novos hábitos. Lave as mãos sempre. Aproveite os bons momentos, faça as coisas com mais calma. Estude mais. Fique mais tempo em casa com a sua família. Faça exercícios físicos. Cuide da natureza. Mas, acima de tudo, conecte-se com as pessoas.
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