Sempre fiquei perdida com cardápios extensos. Estou falando daqueles que parecem um livro, que tem mais de 20 páginas e possui todo o tipo de comida, desde lanches e saladas até pratos de carnes, aves ou peixes, com todas as combinações de guarnições possíveis. Nestas ocasiões, minha estratégia foi sempre pedir ajuda ao garçom sobre qual é o prato mais famoso da casa, para me ajudar nessa decisão difícil.
Lembrei disso recentemente, ao visitar minha página inicial do Netflix e ficar em dúvida sobre qual filme ou série assistir, dentre as milhares opções possíveis. Tive exatamente a mesma sensação do cardápio de 20 páginas...
É muito difícil tomar uma decisão quando se tem tantas opções disponíveis. Conheço gente que passa mais tempo selecionando o melhor filme, do que o próprio filme em si, para não perder tempo com algo que não seja bom. No meu caso, também recorro à recomendação do garçom e escolho o filme que tenho mais chances de gostar.
Acredito que esta indecisão ocorre porque não quero dizer não para os outros filmes ou comidas do cardápio que irei recusar. Tenho vontade de assistir a todos os filmes, de comer todas as comidas, de ir a todos os shows e de ler todos os livros, mas preciso priorizar aquilo que é mais importante para mim em cada momento.
Não é só uma questão de dinheiro, mas também de tempo, de saúde mental e de levar uma vida mais tranquila, sem tantas metas nem tanto planejamento. Conseguir dizer não para um programa que quero ir para poder ficar em casa descansando, por exemplo, é muito difícil para mim, porém muitas vezes necessário. Preciso aprender a colocar limites para a quantidade de atividades que faço.
Sempre fui a amiga topa-topo, aquela que quer participar de tudo, que quer encontrar todo o mundo. Talvez eu estivesse fugindo, para não ter tempo de ficar comigo mesma? Para não ter tempo de pensar, de entrar em contato com os meus pensamentos?
Agora que estou em um relacionamento, fica mais difícil ainda manter esta vida ativa. Muitas vezes, acabo deixando o meu namorado de lado para sair com meus amigos ou ficar com a minha família. Em uma vida a dois, é impossível manter a mesma independência de antes, às vezes é preciso dizer não para o que quero fazer para priorizar o relacionamento. É preciso dizer não para o que não é o meu propósito. É preciso dizer sim apenas para as coisas que fazem sentido.
A pandemia complicou mais ainda a minha situação. Fiquei com um backlog infinito de coisas para fazer, depois de dois anos acumulados. E, agora que as coisas estão mais tranquilas quero fazer tudo-ao-mesmo-tempo-agora, para compensar todo o atraso.
Além disso, sou uma colecionadora de histórias, uma lifelong learner legítima, e minha interpretação sobre fazer tantas coisas, consumir tanto conteúdo ou conhecer tantos lugares é de que estou aumentando meu conhecimento e meu repertório. E isso só me traz benefícios!
Mas, no fundo, o problema maior é que fazer muitas coisas me dá muito prazer, mas ao mesmo tempo, me ocasiona muito stress. Quando vou fazendo as coisas sequencialmente, sem parar pra pensar, sem parar para descansar, em algum momento irei sentir as consequências. Em algum momento irei precisar me resetar e me re-energizar para poder seguir adiante.
Não preciso chegar no nível do Mark Zuckerberg, de usar a mesma cor de camiseta todos os dias para não precisar decidir sobre isso e, assim, guardar espaço para as decisões mais importantes. Porém, preciso chegar a um equilíbrio entre fazer tudo e não fazer nada, entre ficar estressada e ficar entediada.
Dizer não é se abrir para o novo.
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