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Carta para a vó Clarinda

Querida vó

Estou escrevendo para contar que a senhora ganhou mais uma tataraneta! Eu sei que você já tem muitos, mas esta é a primeira bisneta da minha mãe, neta da minha irmã Rita e filha da minha sobrinha Paula. O nome dela é Clara, e com esse nome eu não poderia deixar de me lembrar da senhora. 

Espero que a Clara tenha sua generosidade e seu coração de ouro, sempre nos presenteando com sabonetes para ficarmos todas cheirosas como a senhora. Que tenha saúde pra dar e vender, e que viva muitos anos, assim como a senhora viveu. Que esteja sempre querendo aprender coisas novas, mesmo que isso signifique ter que escrever as novidades na parede para não esquecer. Que seja uma cozinheira de mão cheia e que faça o bife mais saboroso que já comi até hoje. Que tenha a sua veia artística e saiba desenhar um galhinho de amora com perfeição. E que sua casa seja sempre o ponto de encontro da família, como a sua sempre foi.

Hoje eu encontrei as cartinhas que eu te escrevia quando ainda era criança, e também as respostas que você me enviou, que voltaram para mim quando sua casa foi desmontada. Em todas elas, eu aguardava ansiosamente pelas férias e feriados, quando iria te visitar. Mesmo com a minha inaptidão pelas artes, te enviava desenhos, que sempre incluíam a senhora de coque, eu de lacinho e o Lôro em sua gaiola. Ah, como eu adorava aquele papagaio! Enviava bitocas para ele, escrevia as frases que ele mais falava, e quando chegava na sua casa ficava horas conversando com ele. Até hoje adoro papagaios por causa do Lôro da vó Clarinda. Ele era mais velho que eu, e depois que a senhora se foi, ele ficou na casa da Tia Neide, e viveu mais de 40 anos. Estou enviando o vídeo que fiz dele há alguns anos para a senhora ver. 


Também me lembro que quando eu ia na sua casa, adorava varrer o seu quintal. Até hoje adoro limpar e organizar a casa. Nas minhas cartinhas, também sempre falo da liberdade que eu tinha quando ia te visitar e dos passeios de bicicleta que podia fazer sozinha pelas ruas da cidade. Ontem mesmo minhas irmãs comentaram que, quando eram crianças, também adoravam passar as férias na sua casa. Naquela época, elas ainda tinham a companhia de todos os primos da mesma idade, que enchiam a casa e espalhavam colchões pela sala na hora de dormir. 

Em suas cartinhas, a senhora sempre desejava que eu crescesse inteligente e com saúde. Tenho certeza que a senhora ficaria orgulhosa do que eu me tornei. Minha saúde é de ferro, embora hoje em dia seja comum que mesmo jovens da minha idade tenham dores nas costas e dores de cabeça frequentemente. Tudo culpa do sedentarismo e do stress tão presentes na minha geração. Quanto à inteligência, sempre fui estudiosa, e valorizo a oportunidade que tenho de poder estudar, que infelizmente a senhora não teve quando era pequena.   

Mas, o mais importante de tudo, é que a senhora ficaria orgulhosa da nossa família. Sua bondade e sua fé em Deus foi referência para todos nós, e seus ensinamentos estiveram sempre presentes na nossa vida. Sua perseverança é um exemplo que nos estimula a passar por todos os obstáculos que a vida nos brinda, sem desistir. E como a senhora mesma dizia... tem que enfrentar! 

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