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Planos cancelados

Meu fim-de-semana em Garça já estava praticamente planejado, embora de forma muito flexível. Afinal, o objetivo era relaxar e não me estressar para poder cumprir o plano.

No sábado de manhã, eu iria fazer uma caminhada (ou talvez, até dar uma corridinha) e depois, tomaria sol para tirar meu bronze home-office. Depois do almoço, faria uma siesta sem horário para acordar e relaxaria até ir dormir novamente, seja lendo, escrevendo ou terminando de assistir os últimos episódios da minha série atual. No domingo, pegaria o ônibus de volta para São Paulo pois, na segunda-feira, minha rotina de trabalho, exercícios físicos e demais compromissos voltaria ao normal, junto ao marido, às gatinhas e à enteada.

Mas... nem tudo acontece sempre como planejamos, não é mesmo? Já na sexta-feira, tudo começou a acontecer fora do planejado. Acordei com uma dor insuportável na barriga que me impediu de fazer minha aula de funcional pela manhã e de trabalhar durante todo o dia. A partir daí, todos os meus planos do fim-de semana foram cancelados. Fui para o pronto-socorro à tarde e, no dia seguinte, justamente quando eu imaginava que estaria tomando sol tranquilamente na piscina de casa, eu estava fazendo uma cirurgia. 

Essa foi minha primeira cirurgia. Nunca tinha tomado uma anestesia, nunca tinha levado ponto e nem ficado internada. No momento em que estava indo para o centro cirúrgico, só pensava em como tirar aquela dor de dentro de mim e não senti medo. Afinal, era uma cirurgia relativamente simples.

Tudo correu bem e, no dia seguinte, já tive alta do hospital. Porém, teria que ficar pelo menos mais uma semana em Garça para retornar ao médico na semana seguinte. Estaria de licença do trabalho e ainda não podia viajar. 

Os primeiros dias foram os piores, como ocorre em qualquer cirurgia. Ainda sentia muita dor, não conseguia me mexer nem andar com muita agilidade e, o pior, tinha que ficar deitada. Como é difícil para uma pessoa totalmente ativa ficar o dia inteiro parada! O máximo que eu fazia era migrar da sala para o quarto, ou da cama para o sofá, para variar um pouco de ambiente e também para dar uma pequena caminhada durante o trajeto e esticar o corpo. Li dois livros inteiros em três dias, terminei de assistir a minha série no Netflix (pelo menos cumpri parte do meu planejamento anterior), ouvi podcasts e comecei a fazer aulas de francês pelo Duolingo. Mesmo assim, o tempo não passava!

Além disso, via que meu corpo tinha se transformado. Reclamei tanto da minha barriguinha de antes e, agora, ela estava ainda mais inchada e cheia de pontos, o que me renderá uma cicatriz bem maior do que eu imaginava. Me via como uma mãe que acabou de ter um filho por cesárea.

Fico pensando se eu tinha que passar por isso por algum motivo. Se essas coisas acontecem porque têm que acontecer. Ultimamente, eu vinha sentindo muita dor na barriga, mas acreditava que era por causa da lactose. Sou intolerante, mas não resisto a um queijo, a um chocolate ou a uma sobremesa. Também sou daquelas que come compulsivamente e com muito gosto, até mesmo aquilo que me faz mal. Nas últimas férias, que tinham acabado havia duas semanas, eu literalmente enfiei o pé na jaca. Todo o prazer que eu senti quando comi um tiramissú na Itália, uma batata gratinada com (muito) queijo na França e uma degustação de chocolate na Suíça se converteram no mesmo nível de dor logo em seguida.  

No retorno das minhas férias, eu estava super motivada com os exercícios físicos. Troquei o funcional e o pilates por musculação e natação. E ainda tinha planos para tentar voltar a correr, já não estava tendo mais dores nas costas. Porém, meu castigo pós-cirurgia será ficar 60 dias de repouso, sem exercícios físicios e sem fazer nenhum esforço...

Além do mais, durante a primeira semana de recuperação, estava sem fome, sem vontade de tomar café e sem motivação para fazer planos, até mesmo de viagens, o que é bem atípico para mim (meu marido diz que não estou bem mesmo!). Qualquer plano parecia impossível, sem sentido. Só conseguia pensar em me recuperar e ficar bem. A barriga e a cicatriz ficariam pra resolver depois.

O lado bom de tudo isso foi que tive a oportunidade de ficar mais tempo com meus pais que, apesar das circunstâncias, ficaram felizes por eu estar com eles por mais uma semana. Vim para cuidar dos meus pais e acabei tendo que ser cuidada... Também consegui me dedicar a todas aquelas coisas que eu queria fazer mas nunca tinha tempo. E ainda por cima, com todos os cuidados da minha mãe, que não deixava eu fazer absolutamente nada e me tratava com todo o carinho. 

Ultimamente, vinha desejando muito ter alguns dias livres para descansar da rotina acelerada. Será que no fundo eu tive que fazer a cirurgia para que este meu pedido fosse atendido?

Só posso agradecer por ter dado tudo certo e por eu ter sido atendida por um médico competente. Este será um ótimo exercício para que eu possa praticar minha paciência, por não poder fazer tudo o que quero enquanto aguardo minha recuperação, e a minha resiliência para enfrentar os desafios e me adaptar a tudo o que aconteceu, ao invés de reclamar. 

Hoje, uma semana depois da cirurgia, estou voltando para casa. Vou trocar o carinho dos meus pais pelo do meu marido. Terei outras companhias e outras coisas para fazer (daquelas que também estavam na minha lista), mas sigo de licença médica por mais uma semana. E aos poucos, vou sentindo menos dor e me recuperando um pouquinho a cada dia. 

Tudo acontece porque tem que acontecer... 

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