Entrei na faculdade de Ciência da Computação em 1996, quando Tecnologia da Informação ainda era a “profissão do futuro”. Não me lembro muito bem por que escolhi esse curso. Só sei que, aos 17 anos, não temos maturidade suficiente para escolher a profissão que iremos seguir para o resto da nossa vida. Mas eu gostava de ciências exatas, tinha um bom raciocínio lógico e não queria fazer Engenharia, então, foi o que sobrou.
Ganhei meu primeiro computador quando passei no vestibular. Um desktop com monitor de 15 polegadas, Windows 95 e kit multimídia, de última geração. No primeiro dia de aula, olhei para a grade de disciplinas e já estranhei a que se chamava “Construção de Algoritmos”, a base de toda a programação. Não fazia a menor ideia do que iria aprender nos próximos quatro anos que me aguardavam como universitária.
Meus amigos da faculdade achavam que eu nunca iria concluir aquele curso. A maioria deles já tinha computador e programava desde criança, enquanto eu, estava apenas aprendendo a mexer no Microsoft Word. Para compensar minha falta de conhecimento prévio no assunto, estudava muito. Não faltava nas aulas, copiava toda a matéria da lousa, aquelas verdes mesmo em que os professores escrevem com giz, e ainda passava as tardes na biblioteca. Meus amigos ainda me explicavam o que eu não entendia e me ajudavam com os trabalhos.
No terceiro ano de faculdade, cheguei à conclusão de que eu realmente não gostava de ficar sentada na frente de um computador programando, principalmente quando o meu programa não funcionava e eu tinha que procurar o erro. Não tinha a mínima paciência para aquilo! Às vezes, só faltava um ponto final no código para que ele rodasse, mas eu nunca enxergava onde estava o problema.
Mesmo assim, não desisti. Pensava que só faltaria concluir aquele ano de estudos para que eu pudesse começar um estágio, no último ano de faculdade, e então descobriria, na prática, do que eu realmente gostava. Seria apenas mais um semestre de sacrifício.
O sacrifício acabou sendo grande, e depois de uma greve de três meses, típica das universidades federais, terminei meu terceiro ano de faculdade na véspera do carnaval do ano seguinte. Já tinha conseguido um estágio em São Paulo e lá fui eu para mais um capítulo da minha vida.
O estágio foi interessante e no ano seguinte me tornei Bacharel em Ciência da Computação, com notas excelentes e sem ter pego dependência em nenhuma matéria. Mas… e agora? O que eu iria fazer da vida?
Quando fui procurar meu primeiro emprego, nem sabia por onde começar. Meu currículo dizia que eu tinha experiência em programação, enquanto eu queria fazer qualquer outra coisa. E como eu iria encontrar um trabalho em uma área diferente daquilo que eu tinha estudado na faculdade? Mais uma vez, não desisti e pensei: tenho que começar por algum lugar, e se eu não gostar, faço uma pós-graduação em outra área até eu encontrar o que eu gosto de fazer.
Passei os dez primeiros anos da minha carreira me sentindo uma impostora da tecnologia. Trabalhava em uma empresa de telecomunicações, em uma área muito específica deste setor, e sabia que, com esta experiência, eu só poderia mudar de emprego se fosse para outra empresa de telecomunicações concorrente. Trabalhava muitas horas por dia e passava por muitas situações estressantes durante o trabalho, o que resultou em diversos problemas de saúde: gastrite, queda de cabelo, erupções na pele, dor nas costas e… depressão.
As inúmeras crises de choro neste período, inclusive durante o horário de trabalho, me impulsionaram a fazer terapia, e também a querer desesperadamente sair daquele lugar. Eu precisava ampliar meus horizontes e obter experiência em uma área mais genérica, que aumentasse minha empregabilidade em diversas indústrias, não apenas na de telecomunicações.
Foi aí que fiz um curso de Gestão de Projetos, para consolidar a experiência que eu tinha tido nesta área no início da minha carreira. A Gestão de Projetos faz parte da área de Tecnologia, mas ao invés de programar, eu iria liderar as pessoas que programam, com foco na gestão do cronograma, escopo e custo do projeto. Sempre tive um perfil comunicativo e de liderança, portanto aquela atividade era perfeita para mim. E então, dez anos depois que me formei, descobri o que eu gostava de fazer!
Hoje, já faz quinze anos que trabalho como gerente de projetos, e continuo apaixonada por esta área. Não existe rotina e, em cada projeto, aprendo sobre um produto novo, ou uma funcionalidade nova, o que me motiva muito. Gosto muito mais de trabalhar com as pessoas do que com os computadores, embora eles sejam a ferramenta para o meu trabalho. E, ainda por cima, faço diversos trabalhos voluntários de mentoria de carreira, para ajudar pessoas que estão se formando ou que querem mudar de carreira a encontrar o que elas gostam de fazer.
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