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Por um ambiente de trabalho mais inclusivo para as mulheres

Ontem, participei de um painel em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, em que debatemos sobre os desafios que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho e sobre como podemos criar um ambiente mais inclusivo para elas. 


O fato é que, mesmo depois de tanta evolução, as mulheres ainda são consideradas cuidadoras da família, enquanto os homens, provedores. Por este motivo, elas dedicam mais tempo que os homens nas tarefas domésticas e eles possuem mais oportunidades na carreira.   

Acredito que até hoje a mulher precisa decidir entre focar na carreira ou na família, principalmente quando ela tem filhos. Isso porque, se ela quiser chegar a um cargo executivo, precisará se dedicar muitas horas ao trabalho e ficar mais tempo longe de casa, o que significa delegar o cuidado dos filhos para a avó, o marido, a babá ou a escolinha. 

Outra opção comum nas famílias com mais recursos financeiros é que elas acabam abrindo mão de suas carreiras por um período para se dedicar aos filhos, enquanto eles são pequenos. E, quando resolvem voltar ao mercado de trabalho, sofrem preconceito por possuírem uma lacuna em seu currículo.

Ou ainda, elas tentam fazer as duas coisas e ficam super sobrecarregadas, tendo que cuidar do trabalho, da casa e dos filhos, muitas vezes se sentindo culpada por não conseguir fazer nada bem-feito...

Esse cenário vem mudando bastante nos últimos anos.  Mas, por mais que os homens estejam exercendo um papel cada vez maior na casa e na família, na maioria dos casos a pressão do cuidado continua recaindo mais sobre as mulheres do que sobre os homens. E essa dupla jornada possui um impacto significativo em suas carreiras.  

Por este motivo, é muito importante envolver os homens nesta discussão, para que eles entendam que as tarefas  domésticas são responsabilidade de toda a família. Muitas vezes, eles acham que estão colaborando, mas não percebem que ainda não existe um equilíbrio. Se as tarefas forem compartilhadas entre toda a família, incluindo o marido e os filhos, fica mais fácil entender este cenário - e dar valor a ele.   

***

A inclusão das mulheres no mercado de trabalho, assim como a de qualquer tipo de diversidade (não só de gênero, mas também de raça, cultura, religião, condição social, etc.), gera pontos de vistas diferentes no ambiente de trabalho e aumenta a criatividade. Quando todos pensam da mesma forma, as soluções serão sempre iguais e estarão restritas a um público específico.

Não consigo imaginar que um produto usado apenas por mulheres, como um biquíni ou um absorvente, seja criado por homens. Da mesma forma, não consigo entender como um congresso e um senado compostos apenas por homens possam votar em leis sobre aborto ou violência doméstica, em que a mulher é o papel principal. 

Por isso, precisamos da diversidade em todos os níveis hierárquicos das empresas, inclusive nos cargos de liderança, para que elas possam contribuir nas decisões que precisem ser tomadas com diferentes perspectivas. 

Hoje em dia, mesmo com o aumento de mulheres em posição de liderança, elas ainda são minoria nos níveis hierárquicos superiores. Afinal, não faz muito tempo em que as empresas possuíam o estigma de não contratarem mulheres para estas posições, pelo simples fato de que elas poderiam engravidar e ficar um tempo sem gerar valor para a empresa, ou de que elas poderiam faltar no trabalho para cuidar dos filhos doentes... 

Por muito tempo, a maioria das mulheres que queria continuar trabalhando (seja por necessidade financeira ou por satisfação pessoal), acabou optando por trabalhos autônomos ou por um negócio próprio, pois assim teria mais oportunidades e mais flexibilidade de horários em suas carreiras.  

Esta mentalidade também já está mudando (ainda bem!), devido à maior conscientização das empresas sobre as questões de diversidade. Além disso, com o trabalho remoto e o foco na qualidade de vida dado pelas empresas nos últimos anos, a pressão por longas jornadas de trabalho já é menor que há alguns anos atrás, facilitando a participação das mulheres mo ambiente corporativo.

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As empresas precisam investir cada vez mais em iniciativas que incentivem a contratação, a promoção e a retenção de mulheres no seu quadro de funcionários. Por exemplo, na inclusão de benefícios como a jornada de trabalho reduzida (ou a jornada de 4 dias por semana, que está em fase de piloto no Brasil), licença maternidade e paternidade estendidas, auxílio creche, ou horários flexíveis de entrada e saída no trabalho; em processos, como o de análise de currículo às cegas, de capacitação de mulheres em skills de liderança e de equiparação de salários independentemente do gênero; e em políticas contra a discriminação e o assédio sexual no ambiente corporativo.

Essas iniciativas colaboram muito para tornar o ambiente corporativo mais inclusivo para as mulheres e consequentemente para aumentar a representatividade feminina nas empresas.

Os homens também podem se tornar aliados na promoção da igualdade de gênero no ambiente de trabalho. Se eles estão em cargos de liderança, podem dar oportunidades iguais a homens e mulheres no momento da contratação, do desenvolvimento e da promoção dos funcionários, considerando apenas a meritocracia. Caso eles não estejam em cargos de liderança, podem colaborar não discriminando as mulheres por acharem que elas não são capazes de fazer o seu trabalho (mansplaining), não interrompendo as falas das mulheres o tempo todo (manterrupting) ou não propagando qualquer tipo de comentário discriminatório contra as mulheres. 

Os pais, podem se tornar aliados educando seus filhos e filhas para aceitarem a diversidade de gêneros; tratando filhos e filhas da mesma forma e dando a eles os mesmos benefícios; ou estimulando meninos e meninas desde a infância a brincar com bolas, bonecas e jogos de raciocínio lógico, sem distinção de gênero. 

Já as mulheres, devem praticar a sororidade e continuar se unindo para mostrar que é possível ter uma carreira, um cargo executivo ou uma profissão antes considerada masculina, para dar o exemplo a outras mulheres que também querem estar nessas posições. Além disso, precisam se capacitar, para que tenham o domínio sobre o que estão falando e a autoconfiança necessária para se posicionar, sem se intimidar frente aos homens.  

Portanto, se você é uma mulher que conquistou a sua profissão, converse com outras mulheres. Participe de palestras ou de sessões de mentoria para ajudar quem está no início desta jornada. Continue aprendendo e ensinando sempre. Mostre que é capaz e que chegou onde está por mérito próprio.   

Afinal, as mulheres podem ser e fazer o que elas quiserem!

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