Em 2019, trabalhei por alguns meses em Alphaville, e dirigia mais de 2 horas por dia para ir e voltar do trabalho em meio a um trânsito caótico. Na época, eu estava fazendo mestrado, e tinha aulas à noite duas vezes por semana. Nesses dois dias, chegava em casa às 11 horas da noite e, no dia seguinte, lá estava eu de novo acordando às 6 da manhã.
Algumas pessoas conseguem dormir poucas horas e ficar bem no dia seguinte. Mas essa não sou eu. Meu anjo da guarda teve que fazer algumas horas extras para me salvar das vezes em que dormi no volante. Mascava chiclete, ouvia podcasts, cantava bem alto, mas era muito difícil ficar acordada com todo aquele sono que eu tinha.
Pra completar, aquele foi o pior emprego que tive. Apesar de ser uma empresa onde eu sonhava trabalhar, o assédio moral era grande. E eu, que já tinha 20 anos de carreira, estava me sentindo uma péssima profissional. Tentava de várias maneiras mudar aquela situação em que me encontrava.
Até que fizeram uma campanha no prédio do trabalho sobre o Waze Carpool. O extinto serviço de caronas do app de mobilidade, que fazia acordos com as empresas para tornar a plataforma um pouco mais segura. Para dar ou receber carona, você deveria trabalhar em uma empresa parceira e ser aprovada pelos administradores corporativos.
Conversei com algumas pessoas da minha empresa que já estavam utilizando este serviço e tomei coragem para me cadastrar também. Era só colocar a origem, o destino e o horário em que eu iria sair e, se alguém quisesse pegar carona, se candidataria para ir comigo.
No primeiro dia, já conheci uma menina super novinha que morava a algumas quadras da minha casa e trabalhava em outra empresa, no mesmo prédio que eu. Ela era desenvolvedora de software e trocamos várias figurinhas sobre o assunto. Dei carona a ela muitas vezes mais.
Também conheci um cara que havia terminado com o namorado porque ele não o valorizava. Estava super deprimido, e me contava todas as histórias recentes do seu relacionamento falido. Realmente ele não te valoriza, disse eu. Mas o namorado insistia, mandava umas flores e ele voltava de novo...
Mas a pessoa que mais me marcou durante as caronas foi uma mulher muito querida, aproximadamente da minha idade, que estava voltando ao trabalho depois de ficar de licença médica por alguns meses para fazer um tratamento de câncer no seio. Ela me contou das suas filhas, eu contei das minhas gatas, e trocamos várias confidências. Até hoje vejo suas fotos no Facebook com sua família e fico feliz por ela ter superado o tratamento.
Encontrei outras pessoas que não foram tão legais assim. Algumas iam caladas, outras colocavam o fone de ouvido e não davam abertura para nenhuma conversa. Tinha gente folgada, que queria que eu desviasse da minha rota para deixá-los no seu destino, e cheguei a pegar alguns trânsitos desnecessários até aprender a dizer não para este tipo de pedido.
Eu ganhava 10 reais por cada carona, o que ajudava um pouco as despesas de gasolina e pedágio que tinha, mas o mais importante era a conexão com as pessoas. Era a conversa que não me deixava dormir no volante, eram as histórias interessantes que essas pessoas me contavam sobre suas vidas.
Encontrei tantas pessoas bacanas que fez aquela fase ficar muito mais leve. E quando eu finalmente consegui um novo emprego e não precisei mais dirigir até Alphaville, fiquei com pena de não ter mais a experiência do Waze Carpool...
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