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Comunicação não violenta

No ano passado, li com bastante interesse o famoso livro de Marshall Rosenberg sobre comunicação não violenta, ou CNV para os íntimos. E hoje, senti necessidade de revisitar o tema, tão grande é a sua importância no nosso dia-a-dia. 

A CNV parte do princípio de que, se queremos mudar o mundo, devemos começar por nós mesmos. Somos responsáveis pelas nossas escolhas e pelas nossas palavras, e se não soubermos nos comunicar, podemos magoar aos outros e a nós mesmos. 

A comunicação não violenta se baseia na expressão honesta dos nossos desejos e da atenção respeitosa e empática às necessidades do outro. Está baseada também na compaixão, na entrega mútua e na vulnerabilidade, além da percepção de que nossos esforços irão contribuir para o bem-estar de alguém. 

O processo da CNV é relativamente simples, porém depende de muita prática e boa vontade para fazer acontecer. Pode ser definido em quatro passos, que serão detalhados a seguir.

  1. A observação das ações que afetam o nosso bem estar, sem qualquer julgamento ou avaliação
  2. Os nossos sentimentos relacionados a estas ações dos outros
  3. As necessidades ligadas a estes sentimentos
  4. E os pedidos que fazemos ao outro 

Observação 

Primeiramente, devemos observar as atitudes do outro sem qualquer tipo de avaliação. Quando dizemos que alguém é um péssimo aluno ou um péssimo funcionário, isso será recebido como uma crítica não construtiva pela outra pessoa, pois refere-se a uma opinião nossa e não a um fato. Por outro lado, quando fazemos observações específicas sobre aquele contexto (por exemplo, no último mês você não concluiu nenhuma entrega no prazo), deixamos nosso julgamento de lado e nos baseamos em fatos que fazem com que a própria pessoa tire suas conclusões.

As comparações também são uma forma de julgamento, que tornam as pessoas infelizes e não possuem nenhum objetivo concreto. Da mesma forma, as generalizações também devem ser evitadas. As pessoas não devem ser rotuladas como totalmente boas ou totalmente más, pois este pensamento se baseia no conceito de recompensa ou punição. Apenas aquele comportamento específico que não o agradou deve ser pontuado e discutido.  

Além disso, devemos sempre nos sentir responsáveis pelas nossas palavras e  ações, substituindo uma linguagem que implique falta de escolha por outra que reconheça a possibilidade de escolha (eu optei por isso, ao invés de não tive escolha). Sempre há uma motivação por trás da sua escolha: dinheiro, aprovação dos outros ou evitar punição ou vergonha. Substitua o tenho que fazer por escolho fazer porque tenho outros benefícios. 


Sentimentos

Ao expressar seu descontentamento com uma ação do outro, diga como você se sente e os motivos pelos quais deseja que o outro mude de posição. Sinto-me magoado quando você tem tal comportamentoQuanto mais expressamos nossa vulnerabilidade, mais fácil será a resolução de um conflito. Ao contrário, quando não nos mostramos vulneráveis, passamos uma imagem de poder e autoridade, e o outro sente necessidade de se justificar ou de se defender. 

Cuidado para não usar o verbo sentir no sentido de pensar, de como acho que os outros estão me avaliando (sinto-me insignificante), mas sim no que eu realmente estou sentido (sinto-me incompreendido). 

O que os outros dizem e fazem pode ser o estímulo do nosso sentimento, mas não a causa. Este pensamento também traz para nós mesmos a responsabilidade de gerar nossos próprios sentimentos e faz com que você não leve as escolhas das outras pessoas pelo lado pessoal. 

Não se culpe e nem culpe o outro. Escute seus próprios sentimentos e necessidades, assim como os sentimentos e necessidades do outro. Ao invés de julgar alguém, tente se concentrar nas necessidades dessa pessoa. Ao invés de se auto punir, tente se concentrar nas suas próprias necessidades e valores.


Necessidades

Esteja presente com o outro quando ele expressar suas necessidades. Quando ouvimos o outro com empatia, a pessoa se sente compreendida. Entendo o quanto isso é difícil pra você... Da mesma forma, precisamos ter empatia com nós mesmos para poder dar ao outro. Lembre-se sempre de colocar a máscara de oxigênio primeiro em você e depois nos outros! Se você não prestar atenção em você, não conseguirá ajudar os outros. 

Expresse sua discordância de forma respeitosa e honesta e compartilhe suas diferenças sem hostilidade. Você poderia me dar um exemplo de uma situação que faz com que você tenha este sentimento? Quando você diz a alguém você nunca me compreende, a pessoa irá entender como uma crítica e irá atacar ou se defender. Ao invés disso, conecte seus sentimentos à sua necessidade para que o outro reaja com compaixão. Quando dizemos o que precisamos, nos empenhamos também em satisfazer a necessidade do outro. 

Quando estiver com raiva, respire e identifique os pensamentos que fazem com que você julgue as pessoas. Concentre-se na sua necessidade e expresse o seu sentimento, eximindo a outra pessoa de qualquer responsabilidade sobre nossa raiva. Você está dizendo que está com raiva, e deseja que algumas coisas mudem?

Utilize a CNV também para resolver seus conflitos interiores. Concentre-se no que você deseja, e não no que fez de errado. Ao invés de auto julgamento, culpa ou exigências internas, devemos ter respeito e compaixão também por nós mesmos. Perdoe a sua decisão por ter tomado certa atitude, ao invés de se arrepender.

Quando você foca no objetivo, é mais fácil encontrar soluções criativas para que a sua necessidade seja atendida. Por exemplo, ao ter uma dor de cabeça ou passar por um momento de stress, pense no que você pode fazer por você mesmo a respeito dessa situação? Quando acontece ... me sinto ... porque preciso de ... portanto agora eu gostaria de ...


Pedidos

Ao fazer pedidos, use sempre uma linguagem positiva ao invés de um comportamento vago ou ambíguo. Diga gostaria que você passasse mais tempo comigo ao invés de gostaria que você trabalhasse menos. Ao invés de dizer você me interpretou mal, diga não me expressei de forma claraQuanto mais claro formos nos nossos pedidos, é mais provável que nossas necessidades sejam atendidas

Nossos pedidos não devem soar como exigências ao outro. Não podemos forçar as outras pessoas a fazer as coisas da forma que queremos. Elas devem mudar porque entendem que a mudança as beneficiará, e não por obrigação. Para saber a diferença, observe o que você fará se ela não te atender. Se houver crítica ou punição, trata-se de uma exigência. 

Verifique se a sua mensagem foi ouvida com precisão. Você pode pedir ao outro para repetir o que você disse para ter certeza de que ele entendeu. Está me parecendo que... Foi isso mesmo que você quis dizer? Você quer dizer que está se sentindo triste porque ... e quer que...? A pessoa deve estar disposta a atender o seu pedido. 

E, por fim, agradeça! As pessoas sentem necessidade de ser reconhecidas, portanto aproveite para expressar o seu sentimento para as pessoas que você admira. Isso que você fez me faz sentir... e minha necessidade ... foi atendida

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